terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sussurros Acorrentados pt.5


Sempre adorei o sol, principalmente quando eu era criança. Depois, conforme a adolescencia foi chegando não pude mais aprecia-lo tão bem, não que eu gostasse menos dele, é que bebendo até 6 da manha era difícil acordar para aproveitar o dia e na ressaca o sol forte da tarde dava a sensação de que eu estava morrendo no deserto.
Não consegui dormir. Por isso estou aproveitando a manha na praia. O sol fraco da manha toca meu rosto me como um carinho. O leve calor que ele traz da uma sensação de aconchego e o vento da praia equilibra tudo perfeitamente.
Sempre tive presa no peito uma sensação de solidão que por melhor que eu descrevesse, ninguém mais conseguia entender. Essa praia me lembra momentos em que eu quase supri essa sensação. Era aqui que eu conversava com minha namorada no começo de tudo. Era aqui também que eu passava horas com uma de minhas melhores amigas. Era aqui que eu bebia a noite com meus amigos.
- Por que agora eu me sinto tão sozinho?
- Ninguém foi a lugar nenhum e ainda sim eu sinto como se todos tivessem ido embora. O que eu tenho que fazer para suprir essa sensação de uma vez por todas?
O vento soprou forte, como se quisesse me levar. As vezes eu queria que ele me levasse. Ao longe uma nuvem se aproximava, grande e cinza iria tornar minha tarde fria e chuvosa.
- Droga! Quando será que eles vão voltar e me perdoar pelo que me tornei? Quando ela vai voltar e me perdoar por ter sido fraco?
Preciso ir para casa. Por alguma razão senti que apenas aquelas aparições poderiam me distrair da saudade e da solidão que me rodeava.
Sai da praia e entrei na minha rua. O vento me seguiu forte, me empurrando, me fazendo ir cada vez mais depressa.
Cheguei em casa logo e de alguma forma já sabia o que fazer para vê-los. Primeiro tomei um banho. Também sempre gostei de tomar banho a tarde, sair do banho gelado e ver o dia claro me deixava limpo por fora e por dentro. Corri até a janela, conseguia ver a chuva que estava por vir e sentir o vento entrando e castigando o interior da minha casa, mudando as coisas de lugar. A chuva estava quase chegando. É inverno, mas a chuva que está vindo parece tempestade de verão. Antes da chuva cair lembrei por um instante que inverno é época de morango. Não me apeguei a esse pensamento pôs logo a chuva caiu. Começou fraca mas em segundos se tornou uma tempestade como eu previ.
Meu pai costumava ficar nessa janela pensando, ele fazia exatamente isso. Ficava aqui vendo a chuva cair ou somente olhando a noite, ascendia um cigarro e sem falar nada passava horas aqui. De alguma forma resolvia os problemas dele. Talvez resolvesse os meus. Eu não fumo e fumar não foi necessário. Assim que o temporal começou pude sentir uma presença vindo.
A meu lado um menino apareceu, seu rosto refletia a ingenuidade uma criança ele tinha um brilho familiar no olhar. Ele estava sentado no encosto do sofá extamente aonde eu ficava quando assistia meu pai olhar o céu. Ele olhou para mim e falou.
- Eu adoro quando o dia está bonito assim.
Ele também usava grilhões e correntes, mas dessa vez a corrente não ia para nenhum canto escuro, por isso pensei em segui-las com os olhos para ver aonde elas iriam dar.
Enquanto isso respondi ao menino:
- Quando chove assim, eu me sinto em paz. Com você acontece o mesmo?
As correntes desciam de seu pulso e iam em direção ao chão. Enquanto seguia senti uma outra presença que me distraiu.
-Não, nada me deixa em paz. - Essa frase veio de traz de mim, quando olhei vi ao longe o garoto que fica atrás de grades sorrindo como se sentisse prazer em me ver com medo.
O outro garoto olho para traz assim como eu.
- Por que você é o único que fica atrás de grades? - perguntei tentando olhar em seus olhos para não demonstrar medo.
- Por que sou o mais temido. O resto de nós são só um bando de frouxos.
O outro garoto não me pareceu ofendido.
- Pare de bobagens, ele está aqui para vê-la. Todos nós sabemos disso. - disse o garoto da grade.
- Ver quem? - perguntei
- A menina de branco. Nós achamos que ao ficar perto dela você se sentiu tão bem que talvez tenha ficado viciado. Nós nos viciamos. - disse o menino da janela olhando meio para baixo.
- É! Ela é ótima - disse o menino da grade, lambendo seus beiços e seus dentes cerrilhandos.
- Sim ela me fez me sentir muito bem. Mas não é ela que eu quero. Eu só quero respostas. Como, por que vocês aparecem? Quem são vocês?
- Então pergunte! Mas não podemos responder todas as perguntas, apenas as que você estiver próximo de descobrir a resposta.- falou o menino da janela, ansioso como uma criança.
- Porque vocês estão presos?
- Porque não nos querem soltos. - disse o menino da janela
- Nem mesmo você? - perguntei para ele de volta.
- Nem mesmo eu.
- Acho que ele está começando a sacar. Vamos lá. Faça as perguntas certas! Tire-nos daqui! - Falou o garoto da grade.
- Quem não quer vocês soltos?
- Só quem consegue nos ver? - Perguntou o menino da janela
- Eu?
- Você! - Gritou o menino da grade
As correntes começaram a se mexer, como se alguém do outro lado delas estivesse as mexendo.
- Vamos garoto! - Gritou o menino da grade.
- Quem ou o que prende vocês?!
- Essa é a pergunta certa. Pensaremos juntos, quem não nos quer solto mesmo? - Falou o jovem da primeira aparição enquanto saia da parede com um andar elegante.
- Eu.
- Então quem nos prende? - Falou baixo o menino da janela.
- Eu?
- Exato!
- Mas, o que são vocês?
O silencio se fez no cómodo.
-Esse você deve responder sozinho.
Quem são eles....pensa...pensa...quando eles aparecem, o que eles fazem...sobre que situação e o que eles falam para mim...
- Não é muito difícil não é mesmo...- Disso o garoto da grade com um sorriso escroto no rosto.
- Vocês são parte de mim.
Todos concordaram com a cabeça.
- Mas por que eu quero parte de mim presa?
A chuva parou diminuiu e um vento soprou forte, num estante eu estava sozinho de novo na sala. e foi assim que acabou a minha tarde. Sozinho na sala, vendo a chuva cair, ainda sentindo falta de algo. Ainda sem saber do que.





" Nanda! Ta ai o quinto sussurro a seu pedido. Brigadããão pelo desenho vai estar comigo sempre. Espero que você goste do texto e entenda a mudança que fiz nele. Beijão."

Sussurros Acorrentados - Texto Lucas Legey e Desenho Nanda Toro.

2 comentários:

  1. O QUEEE? Te trolei, né? Dizendo que não ia comentar :D vou chegar atrasada na aula, mas valeu a pena! O texto é o mais lindo dos 5 *-* eu sabia que ia chegar essa hora que as coisas iam se explicar. Gostei muito dele, tem muito de vc e é muito especial... e PQP que desenho maneiro! quem fez? :D AHSDUHASUDHASUHD brinks ^^ tá muito bom, não vai me parar a história hein?? Beijos!!!

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  2. Concordo com a Nanda...é seu melhor sussuro.É leve, não tem o peso dos outros e tem menos exageros e tristesas.Vc estava em paz qd escreveu com certeza!Parabéns!

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